Aos Adoradores de Histórias em Quadrinhos - Uma abordagem sociológica do assunto




Primeira revista publicada - 1970.
Sempre fui aficionada pelas histórias em quadrinhos. Na verdade meu primeiro contato com leitura foi através de revistinhas esporádicas da Luluzinha, Garpazinho e Riquinho. Me lembro até hoje de uma revistinha que tinha uma personagem incomum, pois não era publicada no Brasil, e se chamava Rainbow Brite, originária de uma série animada da TV americana de 1984. E, é claro, além das publicações estrangeiras, segue-se a Turma da Mônica. Inclusive tive o privilégio de acompanhar a evolução dos desenhos dos personagens com o passar do tempo. 
No link acima, encontrei um artigo muito interessante de Nildo Viana, sobre a sociologia das histórias em quadrinhos. O que os quadrinhos dizem?, traz discussões sobre a modalidade das histórias em quadrinhos no campo social, e apresenta  aspectos como a desvalorização do gênero, o sistema em que se iniciou a produção dos quadrinhos, os aspectos ontológicos dos personagens,  as demandas típicas do herói  maniqueísta como metáfora do mundo real.

" Uma das grandes questões dos quadrinhos está nas mensagens que eles repassam. As HQ's, desde o seu nascimento, são uma forma de comunicação.(...) Por meio das imagens desenhadas, das palavras e diálogos, da representação pictórica, os quadrinhos manifestam valores, sentimentos, concepções, etc."
Isso mostra que os quadrinhos são um gênero controverso desde seu nascimento devido justamente a qualidade destas informações ser de conteúdo duvidoso. Talvez, até pelo teor não moralista, liberto de barreiras sociais, a história em quadrinho tenha sido marginalizada. 
No Brasil, as décadas de 1960 e 1970 os quadrinhos adultos representavam mais da metade da produção. Seguiram a contracultura, a contravenção politica, e até manifestavam idéias contra a ditadura. Principalmente o gênero de terror amplia-se, até que por volta de 1972 a censura passou a exigir leitura prévia das publicações.

Pagina de Scott Pilgrin
Na década de 1980, começam a aparecer os mangás japoneses, que desde então tem ganhado espaço. No Japão, a popularidade de um mangá, pode lhe render séries de TV. Algumas com muitos anos de produção e centenas de episódios (veja as atuais One Piece, Naruto, Bleach). Os mangás se popularizaram tanto no resto do mundo, que possuem grupos de fanfics que organizam encontros (nas feiras de animes), onde fazem concursos de cosplay (fantasias) dos seus personagens favoritos, e divulgam o estilo e comportamento inspirado no gênero. O enredo do mangá possui características muito próprias, e se diferencia do estilo da HQ de heróis americana, assim como das histórias em quadrinhos europeias, estas ultimas possuindo características autorais muito fortes, além de aspectos austeros: veja Asterix (que possui uma forte veia cômica), e as clássicas séries O Incal (parceria entre Moebius e Jodorowsky) e meu preferido A Casta dos Metabarões (parceria entre Jodorowsky e Gimenez, outro excelente artista). 


Mangá Shonen (luta, aventura)
Na década de 1990, aumenta o número de Grafic Novels com temática existencialista. Um exemplo dessa retomada da nova geração de tramas autorais  é  Scott Pilgrin do canadense Brian Lee O'Malley. Persepolis, da iraniana Marjane Satrapi, segue o contexto íntimo, um quase relato histórico. Maus, de Art Spielgeman, já pode ser considerado um clássico nessa linha narrativa, onde o quadrinho e literatura interagem para produzir outro gênero muito diferente das histórias de mocinhos e bandidos. 
O esforço intelectual dispendido nesta experiências ultrapassa o de um escritor de livros, tanto que é normal serem chamados de livros ilustrados. 
Maus - Art Spielgeman

Já é tempo de reconhecer nas histórias em quadrinhos sua profundidade emocional. 

Mais do que distração infantil as HQ´s evoluíram e tenho encontrado histórias com surpreendente qualidade. Por isso, é interessante discutir o valor artístico do gênero, e produzir histórias em quadrinhos de qualidade também, a partir de boas ideias e temas relevantes.



Neste site é possível conhecer um pouco mais sobre os quadrinhos atuais e clássicos. Há muitas publicações disponibilizadas para baixar, e que já não se encontram mais no mercado, bem como muita novidade.